sábado, 26 de novembro de 2011

O "LOUCO" E O BEIJA FLOR

Algumas pessoas costumam dizer quando um ano ou algum período de suas vidas não reservam boas lembranças, que aquele ano deve ser esquecido.

Se assim pensasse, diria a você nesse momento que 2002 deveria ser riscado de minha história de vida. Porém, os ensinamentos, a herança da fé de minha saudosa mãe e os sempre presentes aconchegos de meu pai, ainda que apenas em pedaços escritos de papel, mas carregados de puro amor e carinho, não me permitem, ao contrário, fazem com que eu sempre procure nas adversidades entender qual o objetivo delas virem sobre mim.

Naquele ano, enfrentamos muitas adversidades em família.

Minha esposa foi (eu disse foi) acometida de uma enfermidade e a enfrentou com a coragem e galhardia de uma heroína.

Uma de minhas queridas sobrinhas ainda adolescente, viveu um momento de muita dificuldade em seu relacionamento familiar e veio ficar conosco por um tempo e pude lhe dedicar um pouco de carinho e afeto naqueles dias.

Nossa cadelinha de oito anos foi morta em atropelamento por um descuido meu e nos causou grande tristeza.

Em meio a tudo isso, fui surpreendido por um surto psicológico diagnosticado como "síndrome do pânico", o qual me afastou do trabalho e do convívio social por quatro longos meses.

Durante esses meses, o que me estabilizava era caminhar pela quente e escaldante cidade de Ipatinga, em  alguns dias por até cinco horas em sol a pino.

Nesse caminhar, não via ou reconhecia ninguém que porventura encontrasse ou me chamasse.

Em um desses episódios de pseudo andarilho, depois de uma caminhada de mais de cinco quilometros ao sol de meio dia, estava sozinho no sítio da família e resolvi usar a mangueira para regar algumas plantas.

Lembro-me que o sol da tarde reluzia de forma intensa sobre os jatos de água projetados da mangueira em um espetáculo que me chamou a atenção de forma intensa que até então naqueles meses de crise nada o tinha feito.

De repente, aquele momento de quase êxtase e deleite foi interrompido por um intruso beija-flor que insistia em voar à minha frente, interrompendo aquele meu minuto mágico e impedindo que os raios de sol mantivessem seu brilho nas gotas d'água projetadas sobre o jardim.

Não adiantou em nada o mudar de direção do jato, porque aquele intruso o acompanhava. A minha ira se acendeu contra ele e passei a pressionar o bico da mangueira de forma a proporcionar maior pressão à água e assim, quem sabe, espantar aquele "desmancha prazer".

Eis que sem perceber, fui movido a projetar o jato da água para o alto de forma a criar uma quase chuva artificial com longo espectro de partículas que ao sol proporcionaram um espetáculo sobremodo mais bonito do que até então vinha desfrutando.

Isso se comparado ao que aconteceu em seguida, não pode ser tido como algo de tamanha significância. Desviei meu olhar das partículas reluzentes de água para aquele frágil, mas valente beija-flor e pude ver que ele, assim como eu, se esbaldava pairando sobre suas asas aproveitando aquela "chuva serôdia" que a mangueira passou a produzir e nela se refrescava naquela tarde quente de agosto do ano de 2002.

Olhando aquilo, ouvi no meu íntimo Deus falando comigo naquele solitário lugar o seguinte relato do Evangelho, quando Jesus disse à alguns  que com Ele estavam:

 "Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?" Mateus 6:26

Com imensa emoção percebi naquele momento, que verdadeiramente estava sob os cuidados de Deus e  que como afirmara Habacuque em sua experiência;

"... ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja gado; todavia eu me alegrarei no SENHOR; exultarei no Deus da minha salvação."
Habacuque 3:17-18

Isso foi de tamanha importância para mim naquele tempo de escuridão e tristeza, que fui tomado de intensa gratidão a Deus e até os dias de hoje, não canso de dar Graças a Ele por tudo.

Resolvi dividir com você hoje, esse depoimento de minha própria experiência porque ontem, 25 de novembro foi o Dia Mundial de Ações de Graças. Uma data ilustrativa de um calendário religioso, mas uma ótima oportunidade para nossa reflexão sobre os livramentos e benefícios que Deus nos concede, independentemente de nosso pedido ou até percepção do que Ele nos tem feito.

Não importa a nossa condição ou situação, compreendi isso naquele agosto de 2002. Importa sim, nos achegarmos a Deus, primeiro com gratidão, depois com súplicas. Ele, segundo sua infinita misericórdia nos atenderá ao Seu tempo.

Espero que essas letras se tornem causa e efeito na sua vida, assim como foi aquele intruso beija-flor na vida desse "louco" que vos escreve.

Um forte abraço e bom Maná.

Com carinho

Samuel Gomes

3 comentários:

  1. Caro Samuel,
    são sinceras e desafiadoras suas palavras. Experiência de superação e humildade!
    Que Deus continue lhe abençoando grandemente e permitindo que muitas outras pessoas aprendam com a sua experiência e sensibilidade.

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  2. Se eu não tivesse aberto meu eu "louco" temendo um negro beija-flor, não teria experenciado tamanha luz e divindade na narrativa de seu depoimento. Abraço fraterno

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  3. Gostei. Vou expiar de vez em quando esse mundo.

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