sábado, 31 de maio de 2014

O STRESS PRODUTIVO



Existe uma tendência de se atribuir a determinadas funções de trabalho, a do serviço publico, por exemplo, como tranquilas, sem possibilidade de stress. Se assim fosse, diríamos que essas funções são o campo da experimentação da tese de Domênico de Masi que afirma ser o “Ócio Criativo”.

“O Ócio Criativo é título de um texto do cientista e sociólogo italiano Domênico De Masi e é também um revolucionário conceito de trabalho que o sociólogo define através da interseção entre três elementos: Vendas, faculdade e raciocínio lógico”. (Wikipédia).

Porém, acredito que não exista profissão no tempo moderno que não traga em seu exercício algum tipo de stress.

Após uma semana de intensa atividade e consequentemente uma significativa carga de stress, fui passar algumas horas na roça. Não fui pescar, apenas ficar um tempo desfrutando do ócio e confesso, sem nenhuma intenção de criar algo.

Ao amanhecer, observando algumas coisas por fazer, resolvi iniciar a limpeza de uma área que a muito procurava alguém para contratar e limpa-la.

Após alguns minutos de esforço e serviço percebi que aquela área poderia estar limpa a mais tempo, fruto de meu esforço e trabalho. Tenho de admitir que não iniciei aquele serviço por outra razão a não ser descarregar o alto nível de stress do trabalho da semana, mas o que importa é que a tarefa que me propuz foi concretizada.

Durante o serviço, que afirmo foi árduo e penoso, comecei a refletir sobre aquilo que denominei de “stress produtivo”, comparado ao “ócio criativo”, senão, vejamos.
“Segundo Edson Zogbi a palavra criatividade vive cercada de significados, alguns pertinentes, como “ideias inovadoras”, “expressão artística”, “algo inédito”, “uma informação diferente” (que não tínhamos), “uma solução de um problema” (até então insolúvel), ou “um processo novo para se atingir um objetivo”. Outros significados são mesmo impertinentes, e como sugere o termo, nos incomodam, deixam-nos desconfortáveis, como “uma viagem com falta de contato com a realidade”, “coisas descomprometidas, até irresponsáveis”, “elucubrações de gente maluca”, “fuga (intencional ou não) da realidade”, “perda de tempo com coisas que não servem para nada”, e assim vai a lista...” (Wikipédia).


“A produtividade é basicamente definida como a relação entre a produção e os factores de produção utilizados. A produção é definida como os bens produzidos (quantidade de produtos produzidos). Os factores de produção são definidos como sejam pessoas, máquinas, materiais e outros. Quanto maior for à relação entre a quantidade produzida por factores utilizados maior é a produtividade...” (Wikipédia).

Nada contra o ócio criativo e sua subjetividade, mas hoje pude experimentar uma nova tese que espero, provoque em nós e principalmente nos gestores de pessoas, uma reflexão sobre como aproveitar positivamente os níveis de stress daqueles que estejam sob sua tutela de comando.

Saibam que durante esse trabalho diverso ao da minha atividade profissional regular, pude ver que o “mal do século” pode ser usado de forma a romper com paradigmas pessoais, visões míopes de nossa própria capacidade de sobressair a determinadas situacões, ou seja, percebermos que, apesar de estarmos no limite de nossa capacidade física, mental ou emocional, é possível perceber que ainda há muito de nós que pode ser usado positivamente, e melhor, podemos dizer para nós mesmos que a forma de contradizermos a subjetividade de nossos pensamentos, é produzirmos algo novo, concreto, mensurável, palpável.

Na reflexão e experimento do “stress produtivo”, este se mostrou superior ao “ócio criativo”, pois, além da concretude do trabalho que pode ser visualizado inclusive na foto anexada, durante o serviço pude construir as ideias “criativas”, que ora compartilho com vocês.


Se você alinha seu pensamento a essa tese, informo que lá na roça ainda tenho muitos ambientes para lhe oferecer como campo experimental de seu “stress produtivo” e espero poder fotografar a concretude de sua experiência e ver como aquele espaço se tornou mais propicio ao meu “ócio”...

Um grande abraço,

Samuel Gomes

sexta-feira, 7 de março de 2014

BOBAGEM

Hoje alguém certamente me dirá: “Está ficando velho, heim Samuel...”

Bobagem, porque a gente envelhece o tempo todo; o tempo não para; é como o rio. Só que a gente não percebe. Mas aí chega um dia que faz a gente parar e prestar atenção: o dia do aniversário.

No dia do aniversário a gente diz: “Passou mais um ano da minha vida“. É apenas o dia quando os números mudam... no meu caso, de 5.4 para 5.5, muito aquém de minhas expectativas numéricas para esse tema...

Os números não dizem nada. Há um verso sagrado que diz: “Ensina-nos a contar os nossos dias de tal maneira que alcancemos corações sábios.“ Salmos 90:12

Muita gente envelhece sem ficar sábio. O que é um sábio? Sábio não é quem sabe muito. Sábio é quem come a vida como se ela fosse um fruto saboroso. O sábio presta atenção nos prazeres e alegrias de cada momento. E o que dá prazer e alegria não são coisas grandes, festas com bolo, bexigas e presentes. O que dá alegria são coisas pequenas... bem pequenas. O prazer de ter o carinho, afeto e amizade de pessoas que amamos, por exemplo. 

Amar... profundo sentimento, de complexidade extrema, mas paradoxalmente tão simples como as coisas pequenas que nos fazem sábios. Basta observarmos as afirmativas do Apóstolo São Paulo que disse:

“...O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta...” I Cor. 13:4-7

Obrigado pela simplicidade de seu amor, carinho e amizade, isso tem feito sentido em minha vida, acrescentando sabedoria ao me empenhar para conserva-los.

Celebre comigo a vida! Celebre comigo o amor de Deus que se renovou sobre mim neste dia!

Carinhosamente

Samuel Gomes

07 de março de 2014

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

TODO FILHO É PAI DA MORTE DE SEU PAI


" Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai.

É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso.

É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar.

É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela - tudo é corredor, tudo é longe.

É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios.

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai.

Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta.

E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais.

Uma das primeiras transformações acontece no banheiro.

Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro.

A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.

Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes.

A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões.

Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus.

Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente?

Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.

E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia.

Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos.

No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:e

— Deixa que eu ajudo.

Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.

Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.

Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.

Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.

Embalou o pai de um lado para o outro.

Aninhou o pai.

Acalmou o pai.

E apenas dizia, sussurrado:

— Estou aqui, estou aqui, pai!

O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali. "

(autor desconhecido - compartilhado por Elodia Roman)